quarta-feira, 12 de maio de 2010

Top 5: Razões pelas quais me tornei um nerd



5º lugar: Dislexia.

Quando criança eu sofria de uma dislexia absurda, demorei a falar, demorei a andar e demorei mais ainda pra aprender a ler e escrever, conclusão: fiz a alfabetização duas vezes. E uma das coisas que os médicos indicaram para a cura da maldita dislexia do pequeno Agripininho foram as histórias em quadrinhos. A partir daí veio meu vício em quadrinhos, começou com as revistinhas da turma da Mônica, passou pela fase dos clones do Homem-Aranha, pelos Super-Homens Vermelho e Azul, pelos mangás (muitos mangás) e depois com a dislexia curada (Ok, nem tanto. Quem me conhece sabe que as vezes troco palavras e letras) voltei ao mundo dos quadrinhos. O ponto é; sem a dislexia eu não teria o amor pelos gibis.


4: O super nintendo do vizinho.

O único video game que tive na vida foi um master system de segunda mão, ganhei quando tinha uns 8 anos e nunca consegui zerar Alex Kid, ou seja, larguei aquela porcaria velha logo. Larguei porque meu vizinho (aaaaaaand melhor amigo na época) ganhou um super nintendo. Ali sim nós tínhamos diversão para o dia todo, perdíamos noção do tempo jogando Mario Kart, Donkey Kong, Superstar Soccer, Street Fighter, Star Fox, e muitos outro jogos. O tempo que dedicávamos aqueles jogos nos ensinaram lições importantíssimas que a geração Playstation jamais aprenderá.


3º The Beatles

O que define um nerd é sua fixação por determinados tipos de assuntos, minha primeira fixação foi um disco dos Beatles, o ONE. Comprei quando tinha 15 anos e passava horas folheando o encarte, descobrindo o ano que as músicas haviam sido lançadas, quem cantava, em que discos estavam, etc. Graças a esse CD peguei a mania de me aprofundar nos assuntos que mais me interessam.


2º: Star Wars

Tarde de algum mês no ano de 1999, aluguei com um amigo da época a trilogia original de Star Wars e vimos tudo de uma vez só. Eu sabia com toda a certeza do mundo que depois daqueles filmes minha vida não seria mais a mesma. Star Wars te abre as portas da percepção nerd. Depois dos filmes sua mente fica mais aguçada para entender melhor o mundo pop, entender porque aqueles filmes mudaram o jeito de se fazer cinema, de se vender arte, de levantar a bandeira de "fan boy" sem ter vergonha. Pra mim foi definitivo, depois daquela tarde eu queria ser um Jedi, ou "apenas" ser George Lucas.


1º: A falta de opção.

Adolescência é uma época complicada, a transição de fases mexe muito com a cabeça de todo mundo, principalmente porque você tem a necessidade de se relacionar com pessoas do sexo oposto (ok, nem todo mundo. Mas você entendeu). No meu caso foi fácil, já sabia que não era bonito e que minhas chances com as garotas teriam que ser aprimoradas por outros meios, e quais meios eram esses? Todo aquela carga de conhecimento inútil que havia acumulado durante a infância. Sério, um nerd nada mais é do que uma pessoa que resolveu não esquecer de tudo que o fazia feliz durante a infância. Eu fiz essa escolha por falta de opção, ou por acaso você consegue me imaginar sendo uma pessoa comum? Eu nunca consegui. Sorte minha que agora a nerdaiada tá por cima, é a verdadeira REVANGE OF THE NERDS.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Discografia Básica: Blood on the Tracks


O fim do casamento com Sara foi a salvação para o desolado Bob Dylan no início dos anos 70. Desde o "Nashville Skyline (1969)" que o bardo trovador da voz fanha não lançava um álbum consistente, que fizesse sentido com toda sua excelente discografia até aquele momento. Dylan tentou de várias formas se encaixar na nova década, trocou de gravadora, inventou a pirataria ("Basement Tapes"), reinventou algumas canções antigas e nada, absolutamente nada o fazia ter o reconhecimento ganho nos revolucionários anos 60. Chegou ao ponto de alguns jornalistas influentes da época darem como certo o fim da "Era Dylan", alegando que o cantor não iria achar seu espaço na era "Glam-Progressive-Hard-Rock" que dominava os anos 70.

O que os críticos não esperavam era que a determinação de Dylan em se encaixar nessa nova fase fosse acabar com seu casamento, e assim, o fazer criar um dos discos que definiriam a forma de se curtir uma fossa. Foi isso, de tanto lutar pra ter seu reconhecimento de volta, o cantor deixou seu relacionamento chegar ao fim...em pedaços.

O que ouvimos em "Blood on the Tracks (1975)" é um Dylan amargo e ao mesmo tempo sensível, capaz de se colocar no lugar de Sara e entender - também - o que ela estava sentido, algo nunca antes feito por um machista como o senhor Zimmerman. Ouvir o disco é viajar por vários momentos de um relacionamento, não de forma cronológica, isso seria muito óbvio para um gênio da complexidade conhecido como Bob Dylan.

O disco abre com "Tangled up in blue" que em uma péssima tradução feita por mim pode ser entendida como "enrolado na tristeza\fossa", nessa música Dylan confessa os erros que cometeu na sua relação com Sara. A segunda faixa "Simple twist of fate" narra de forma lúdica a história de um casal unido por uma simples guinada do destino, destino esse que segundo Dylan é o culpado por milhares de relacionamentos fracassados. "You're a big girl now" é o trovador sendo gente como a gente, dizendo que quem cresce com o fim do relacionamento é a outra pessoa, não ele (machismo? talvez.).
Chegamos a "Idiot wind", minha música preferida do disco, posso dizer que ela resume todo o conceito do "Blood...". Nela, Dylan descarrega toda a culpa pelo fim do relacionamento em Sara, alegando que ela não o entendia, não tentou ajudá-lo, salva-lo daquele momento difícil. A revolta é tanta que o bardo chega ao ponto de perguntar diretamente "como ela ainda consegue respirar, de tão idiota que é".
O disco ainda contém alguns momentos Blues ("Meet me in the morning" logicamente condizente com a tristeza do álbum), momentos em que Dylan é apenas um grande contador de histórias ("Lilly, Rosemary and Jack of Hearts" uma música de tirar o fólego!), momentos de sensibilidade jamais antes vista na carreira do cantor ("If you see her, say hello") e momentos que antecedem o que iríamos ouvir no seu próximo disco, o "Desire (1976)".

"Blood on the tracks" é um daqueles discos que você terá de ouvir ao menos uma vez em sua vida. Guarde-o bem para o momento certo, com certeza ele virá, e o Dylan estará lá para te socorrer...ou piorar tudo.

Anos depois em seu livro de crônicas, Bob Dylan afirmou que o disco não tem relação alguma com o fim do seu casamento com Sara, que na verdade é inspirado nas histórias de Anton Chekhof. Vocês acreditam? Eu não.