segunda-feira, 26 de abril de 2010

Discografia Básica: Blood on the Tracks


O fim do casamento com Sara foi a salvação para o desolado Bob Dylan no início dos anos 70. Desde o "Nashville Skyline (1969)" que o bardo trovador da voz fanha não lançava um álbum consistente, que fizesse sentido com toda sua excelente discografia até aquele momento. Dylan tentou de várias formas se encaixar na nova década, trocou de gravadora, inventou a pirataria ("Basement Tapes"), reinventou algumas canções antigas e nada, absolutamente nada o fazia ter o reconhecimento ganho nos revolucionários anos 60. Chegou ao ponto de alguns jornalistas influentes da época darem como certo o fim da "Era Dylan", alegando que o cantor não iria achar seu espaço na era "Glam-Progressive-Hard-Rock" que dominava os anos 70.

O que os críticos não esperavam era que a determinação de Dylan em se encaixar nessa nova fase fosse acabar com seu casamento, e assim, o fazer criar um dos discos que definiriam a forma de se curtir uma fossa. Foi isso, de tanto lutar pra ter seu reconhecimento de volta, o cantor deixou seu relacionamento chegar ao fim...em pedaços.

O que ouvimos em "Blood on the Tracks (1975)" é um Dylan amargo e ao mesmo tempo sensível, capaz de se colocar no lugar de Sara e entender - também - o que ela estava sentido, algo nunca antes feito por um machista como o senhor Zimmerman. Ouvir o disco é viajar por vários momentos de um relacionamento, não de forma cronológica, isso seria muito óbvio para um gênio da complexidade conhecido como Bob Dylan.

O disco abre com "Tangled up in blue" que em uma péssima tradução feita por mim pode ser entendida como "enrolado na tristeza\fossa", nessa música Dylan confessa os erros que cometeu na sua relação com Sara. A segunda faixa "Simple twist of fate" narra de forma lúdica a história de um casal unido por uma simples guinada do destino, destino esse que segundo Dylan é o culpado por milhares de relacionamentos fracassados. "You're a big girl now" é o trovador sendo gente como a gente, dizendo que quem cresce com o fim do relacionamento é a outra pessoa, não ele (machismo? talvez.).
Chegamos a "Idiot wind", minha música preferida do disco, posso dizer que ela resume todo o conceito do "Blood...". Nela, Dylan descarrega toda a culpa pelo fim do relacionamento em Sara, alegando que ela não o entendia, não tentou ajudá-lo, salva-lo daquele momento difícil. A revolta é tanta que o bardo chega ao ponto de perguntar diretamente "como ela ainda consegue respirar, de tão idiota que é".
O disco ainda contém alguns momentos Blues ("Meet me in the morning" logicamente condizente com a tristeza do álbum), momentos em que Dylan é apenas um grande contador de histórias ("Lilly, Rosemary and Jack of Hearts" uma música de tirar o fólego!), momentos de sensibilidade jamais antes vista na carreira do cantor ("If you see her, say hello") e momentos que antecedem o que iríamos ouvir no seu próximo disco, o "Desire (1976)".

"Blood on the tracks" é um daqueles discos que você terá de ouvir ao menos uma vez em sua vida. Guarde-o bem para o momento certo, com certeza ele virá, e o Dylan estará lá para te socorrer...ou piorar tudo.

Anos depois em seu livro de crônicas, Bob Dylan afirmou que o disco não tem relação alguma com o fim do seu casamento com Sara, que na verdade é inspirado nas histórias de Anton Chekhof. Vocês acreditam? Eu não.

6 comentários:

  1. Ótimo texto, Pig. Dá pra perceber nas linhas e entrelinhas a sua admiração pelo Bob.

    Só uma coisa: negritinho nos nomes é coisa de revista Caras, hein?! hahahaha

    keep writing!

    ;*

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  2. Cara, esse é um dos meus discos favoritos dele e juro que eu não sabia que ele fora composto após ele terminar com a mulher dele. Enfim, Tangled up In Blue tá no meu top 5 de músicas do Dylan.

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  3. e olhe que eu achei que tu ainda usou pouco negrito, com relação aos posts passados! hahaha isso me irritava também, mas não por parecer revista caras, e sim porque eram bem aleatórios, tipo quando tu usa caps SEM motivo algum.

    eeeeeenfim, conheço pouco do bob, e não tenho muita vontade de conhecer mais, mas gostei da tua resenha, tu sabe resenhar :D

    e obrigada por adicionar "bardo" ao meu vocabulário, não conhecia IUHAEIUAEHIUAE


    keep writing! [2]

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  4. Chekov? Me engana que eu gosto, Bob Dylan ;)

    "um dos discos que definiriam a forma de se curtir uma fossa" foi genial, haha.

    Esse disco é capaz de transformar qualquer dorzinha de cotovelo numa desilusão amorosa federal, sejamos cuidadosos. rs

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  5. Vou mandar esse link pro Bob, só pra ele dizer se é ou não fossa da mulher. O que importa é que não se vê todo dia um fâ do Dylan contralia-lo assim e pior, ter argumentos para isso.

    Um dia esse post vai estar na Rolling e o Pieg sendo alegremente processado por ele!

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